20.10.07

forget about your house of cards

Nas minhas andanças por aí, passei por um bairro que eu não gosto. Não é bem não gostar, é ter medo. Passei a pé, o que é pior. Porque é o bairro em que a minha vó paterna e a minha tia moram. Eu já falei milhares de vezes aqui e até eu já cansei desse assunto, mas elas cortaram relações com a gente quando o meu pai morreu. Então eu fico com medo de encontrar e não saber o que falar ou fazer. Tipo se eu xingo, se faço de conta que não vi, se abraço ou se dou um espacate no chão, sei lá. Na verdade eu não precisava andar por lá, tinha outro caminho, mas fiquei com uma curiosidade que não ia passar tão cedo. Aí já era. Fiquei lembrando onde era a locadora que eu alugava fitas de videogame, onde meu cachorro tomava banho, onde era o mercado em que a gente comprava um tijolão de doce de leite que eu amava. E me deu mais raiva, né. Porque eu não sei até que ponto eu devo sentir tudo isso. Imagina eu encontrando a minha avó, que deve ter lá seus 80 anos, e começar a dizer o que eu penso dela? Dizer que mãe nenhuma deve abandonar o filho quando ele tá morrendo? Ou abandonar o filho, ponto? Dizer que o medo dela (que nem beijo mais dava nele) de ficar perto é a coisa mais inconcebível do mundo? Que rejeição de mãe nessa situação é provavelmente a coisa mais podre que eu consigo pensar? Se eu falasse tudo isso, acho que ela me olharia com uma grande cara de 'q'. Mas eu bem que gostaria de ter essa chance, eu acho. Por isso me meti a andar lá. E aí pra juntar raiva com raiva, eu tenho raiva de mim. Porque eu não consigo ver o lado bom da coisa por muito tempo. Não consigo pensar por muito tempo que eu devo a elas o fato de ter aprendido cedo o que é amor incondicional, por elas terem me mostrado o que não é amor incondicional. Aprendido que ser Louis fode com a vida de todo mundo. Quando precisei ajudar muito alguém, não fui Louis (mas fui mais pobre, conta de telefone nas alturas). Aprendido ajudar quem me pede ajuda. Porra, não é como se meu pai estivesse precisando de dinheiro e ela o evitasse. Era a única chance que ela tinha de ficar perto porque no dia seguinte, ele não ia estar mais lá e ela sabia. Aprendido que o meu nível de conforto não deve ser mais importante que a felicidade dos que eu amo. Tá, isso foi a Bette Porter que falou, mas eu já tinha meio que aprendido.
Enfim, é muito rancor que eu não consigo transformar em coisa produtiva e por isso não vou atrás de revê-las. Meu irmão já tentou um ou outro contato. Minha tia bem mais aberta, minha vó parece que meio louca. Claro, né. Tinha que virar a louca do sótão mesmo.
Voltei pra casa não sei como. Com um nó na garganta daqueles que chegam a doer, por um caminho que eu não conheço mas conheço ao mesmo tempo. Tipo aquela música uó da Alanis que você sabe cantar apesar de não gostar.
Se eu achasse que elas entenderiam a ironia (e a sinceridade também), eu escreveria uma thank you note pra elas. Mas nem vale a pena.
Pra encerrar o assunto sem ser tão amarga e resumir tudo o que eu escrevi até agora e o que eu penso sobre amor em qualquer encarnação, essa música linda da Wendy. I could hold all the darkness back for you, but what kind of favour is that to you?
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Em outra andança, passei perto da casa de um ex. Claro que fiquei pensando em como seria fácil estar com ele ainda. Ricaço, o infeliz. Seria mais uma variação da eu de Tampa. As minhas andanças tão parecendo cortejo fúnebre.
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Finalmente fiz outro óculos, pra ver a Leslie em HD. O anterior tinha sido roubado com a bioncê. Em 2005. Esse novo é meio roxo, achei engraçado. Mas tem um ar de Winifred Burkle, o que dá todo um charme. Claro que a palhaçada já começou. Eu tiro o óculos automaticamente, sem pensar, achando que o monitor vai deixar de ser azul e voltar ao normal.
Tem armação meio grossa, então tem gente que não vai falar comigo.
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Falei, falei e não contei a losers night out. Precisa de um post só pra ela.

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