31.8.07

too scared to own up to one little lie

Não ter dinheiro me irrita muito. O mais perto que cheguei de ganhar dinheiro (além da megasena) foi cogitar a possibilidade de recolher as apostas de muita gente que jurava que eu não ia conseguir ficar solteira por muito tempo. Ia me render um bom dinheiro. Mas provar que eles tavam errados é um prêmio de consolação, mesmo que essa comprovação não seja proposital. É natural. Ficar sozinha não é um problema pra mim, nunca me incomodei com isso. Nunca foi uma questão, really.
Voltando.
Acho que grande parte do motivo pelo qual eu não tenho um emprego é o fato de que eu não sei fazer propaganda de mim (quem quiser analisar e levar mais a fundo, pode ir que eu fico aqui olhando. Vai que eu te espero). Não sei mesmo, me sinto muito desconfortável. A coisa já começa ao perceber que o empregador não dá muito por mim. Eu acho que é a impressão que muita gente tem de mim, inclusive socialmente. Tipo bege mesmo. Então eu tenho que conquistar. E fica mais fácil conquistar num ambiente relaxado, depois de uma taça de vinho ou durante uma conversa engraçada. Eu só ouvia dos supervisores na faculdade que, oh, surpresa, só me conheceram pelos trabalhos escritos. Timidez é foda. Se as entrevistas fossem pelo computador, eu tenho certeza que já estaria empregada agora. Mas não são, então eu bombo no msn. Porque na frente daquela gente, eu não consigo mostrar que, se eu sou uma pessoa obsessiva com os meus seriados, ganhando bem eu fico obsessiva com o trabalho e vou ser tipo ultra produtiva. E eles poderiam me explorar e abusar que eu ia gostar. Se eu consigo ser maníaca quando checo mil vezes blogs, fotologs e contadores, ganhando bem eu consigo fazer um trabalho quase perfeito*. Se eu consigo lembrar de quotes de filmes dois anos depois de ver, é bem possível que, ganhando bem, eu consiga lembrar do nome de todos os colegas de trabalho e suas preferências de café. Além de lembrar de trabalhar, né. Se eu consigo passar o dia baixando música, a maioria de banda que eu não conheço mas gostei do nome, ganhando bem eu até poderia me interessar pelos serviços por causa dos motivos mais banais. Se eu consigo tirar foto "com" o Gasparetto (pra minha mãe, que se diverte com as bichices dele) e pedir leite na Bella Paulista, ganhando bem eu não teria medo de ser diferente e não cederia à peer pressure. E tipo não ter medo de ser ridícula se me parece uma boa idéia. Beeem ridícula. Mas (ainda no tema ridículo) ao mesmo tempo, se eu consigo ser a primeira a correr rindo desesperadamente quando algum amigo toca a campainha de um prédio qualquer no meio da madrugada/manhã, ganhando bem eu consigo apoiar quem eu acho divertido e criativo (apesar de que tocar campainha e sair correndo é bem anos 90).
Se eu consigo cortar a comida pra minha vó comer, ajudar meu vô a andar, ser a única responsável de lembrar de todas as contas dessa casa, ir ao supermercado pelo menos duas vezes por semana, levar os velhinhos ao médico, servir o jantar pra minha mãe quando ela chega cansada em casa, ser gentil com o meu irmão, ter paciência pra ensinar a minha mãe mexer com alguns programas no computador, me permitir às vezes voltar pra casa semi bêbada e sangrando, organizar as contas dos velhinhos, organizar os horários dos remédios dos velhinhos, ser gentil com o meu irmão, estar relativamente disponível pros meus amigos, ainda estar viva depois dos 2 anos mais difíceis da minha vida e gostando de estar viva...se eu consigo tudo isso, acho que não tem muita coisa que eu não consiga fazer.
Exceto falar cara a cara com algum desconhecido que pode me dar dinheiro periodicamente, né.



* minha mãe diz que eu nunca poderia ser controladora de vôo porque ficaria checando mil vezes as contas e traria o próprio apocalipse pro céu brasileiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse post é excelente. Um dos melhores (pq a Mary W tem feito posts ótimos) que eu leio em muito, muito tempo.

Gostei muito e vou voltar.