10.9.07

i followed you....foolishly

Em momentos assim, eu só consigo lembrar da minha supervisora de psicanálise. Praticamente a minha life coach. As pessoas sempre saíam da supervisão dela completamente mexidas, não tinha uma alma que conseguisse sair indiferente. Era muito divertido de ver, todo mundo sempre muito eufórico e falante. Eu particularmente saía flutuando de tão inteligente, sábia e engraçada que a mulher era (ainda é, às vezes a encontro em alguma palestra). Me dava vontade de sair correndo gritando pelos corredores, de tanta energia que circulava. A mulher soltava cada uma que virava bordão eterno, piada interna* e lema de vida. Então em algumas situações, eu só consigo lembrar de coisas que ela falava muito, como:


- em relacionamentos amorosos, a gente dá o que não tem, pra quem não quer.
Em 'relacionamentos amorosos' eu englobo crushes, paixonites, paixão e amor. Ela tava meio que quotando o Lacan mas, apesar desse pequeno detalhe, faz muito sentido. É um tal de idealizar, projetar e se jogar que é patético até. Eu não acho que chega a ser ao ponto de 'quem você ama não existe', como eu ando dizendo por aí (e como já ouvi tantas outras vezes). Não tão radical assim. Mas nesse sentido. Eu ia elaborar, mas já me exponho demais aqui as it is, então vamos deixar assim. E juro que não se trata de mágoa de caboclo, eu já disse que desse assunto eu não falo mais aqui.


- se você bobeou e não investigou alguma coisa quando teve a oportunidade, não se preocupe: o ônibus passa mais de uma vez no ponto.
Essa era a nossa preferida porque cobria qualquer falta de atenção da nossa parte. Quando a atenção flutuante flutuava demais e não pescava nada. E é muito verdade. Se for importante, a questão vai aparecer de novo. E de novo. E de novo. É confiar no inconsciente. O que a gente quer falar, a gente fala, mesmo não percebendo. É meu lema de vida. Eu sou bem anta pra captar as coisas e, sabendo disso, eu fico meio aliviada. Se eu prestar um pouquinho de atenção e se as minhas defesas deixarem, eu acabo percebendo o que os outros querem dizer. Não que saber o que os outros querem dizer seja bacana, lindo e indolor. Às vezes é bom a gente se dar uma enganadinha. O que me leva à próxima grande máxima.


- cada um só percebe o que é capaz de agüentar perceber.
Muita gente errava a mão (ATO FALHO, escrevi 'mãe') nessa hora. Era um tal de intervir querendo mostrar 'a realidade' pros pacientes que dava até pra apostar café** no intervalo. Claro que não dá certo e só é expressão da ansiedade de quem tenta mostrar alguma coisa pra alguém. Ninguém mostra nada pra ninguém, não é assim. É o que ela mais falava. Ninguém mostra nada pra ninguém. Eu adorava isso. É tão coisa de jovem bobo querer mostrar alguma coisa pra alguém. Atribuir sentido pras coisas dos outros. Tipo apontar e falar. A audácia de 'saber' mais do que a própria pessoa. E tem toda a questão sobre o que é a realidade. Não, não vou entrar num papo do tipo 'será que vivemos na matrix?', porque a gente bem sabe que isso é papo de maconheiro que acha que tá filosofando. Tô falando de realidade psíquica. Tipo não importa se você é a Amy Winehouse e tá enchendo a ventoinha de heroína se você não se considera alguém que tem a ventoinha cheia de heroína. Não é questão de conscientização. Quer conscientização, vai no Gasparetto que a bicha te chacoalha até você 'perceber' o que tá fazendo.


- o desejo não é futuro, é presente.
Uma das maiores piadas internas. O desejo não tá no que tá pra acontecer, mas sim no que tá acontecendo. A gente atualiza o desejo a cada instante. É o que realizamos agora, pra manter tudo do jeito que está. Cada um vive o desejo no agora, nesse instante. Não é o projeto, é o agora. Hello, princípio do prazer, so glad to see you.

...

Isso era pra ser um post rápido e genérico. Demorei uma hora pra postar e precisamente uma pessoa (sendo muito otimista) vai conseguir relacionar com o que tá acontecendo.



* piada interna de psicólogo/psicanalista me diverte muito. Talvez porque pela primeira vez eu consigo participar da piada e entender pelo menos metade do que tá acontecendo.
** no primeiro ano da faculdade, metade da sala saía pra beber durante o intervalo. Então sempre tinha uns 4 ou 5 bêbados dentro da sala (só dEUS sabe como isso me irritava. Eu ainda não bebia, né, ainda não precisava. Entendam). Os anos foram passando, inteligência foi cada vez mais exigida e tudo que o povo queria era ficar perspicaz e atento. Café era largamente consumido e provavelmente alguma coisa tipo anfetamina. Café eu odeio e não consigo engolir bolinhas (analisem depois). Nem vem falando que a minha vontade de sair correndo gritando era conseqüência de entorpecentes. Tomava chocolate quente no intervalo, acho que o moço só fazia pra mim. Enfim, sobre a aposta. Eu sempre apostava na menina que começava todas as frases com 'aí ele pegou e falou assim'.

4 comentários:

Anônimo disse...

muito obrigada por esse post. tipo, eternamente.

Aimée disse...

nossa, como eu gostei desse post.

Anônimo disse...

foi bão mesmo, esse post. eu queria tê-lo entendido para além. tomara q sim. se nao, o q eu entendi é suficiente. para aplicar na vida, dessa vez, fico com o mandamento 1. dando o q nao tem pra quem nao quer. adoro o onibus, claro. mas hj o primeiro bateu mais.

Laila Castro disse...

'ai ele pegou e' HAHAHAHA