16.4.07

we are rainbowarriors, evil come not near

Eu nunca sofri preconceito (além do materno-quase infalível-porém-temporário-ao-sair-do-armário). Mentira, uma vez. Não sei se eu contei aqui (mas quase todo mundo já sabe) de um idiota que quase me fez bater a bioncê (meu antigo carro), tentando dar uma de machão porque um dos meninos 'mexeu' com ele. Claro que eu tentei dar uma de machão e meio e fui pra cima dele também. Apesar de tudo isso (ou justamente por causa disso), eu não consigo imaginar como alguém consegue viver no armário. Claro que quando a gente percebe que é 'diferente', dá um certo medo, mesmo que a gente não saiba exatamente medo de quê. Eu tenho uma (ex) amiga de infância que ficou com menina mais cedo que eu, mas só embolachou de vez quando retomou contato comigo (procurando justamente isso). Ela faz, acontece, causa horrores mas se faz de santa pra mãe. Nega até a morte e me joga na fogueira. Eu nunca me importei, só deus sabe como eu adoro drama e me fazer de mártir. Mas a menina cagou comigo recentemente e a mãe dela veio falar merda pra mim. Não que eu não soubesse já, mas vendo acontecer com outra pessoa (meu histórico familiar a gente ignora) deixou muito claro que o armário é o lugar mais aterrorizante que existe. Causa tão mais sofrimento viver com medo e mentindo do que trepar com dez meninas por fim de semana e não esconder isso. Quer fazer, por favor, faça. Quem sou eu pra julgar as vontades, as minhas 'vontades' deram origem a cagadas internacionalmente conhecidas. A questão é esconder, seja a vontade, o ato ou a cagada. Se você é capaz de fazer, é capaz de falar. E quem não é capaz de falar, deve viver num medo tão intenso que eu só consigo sentir pena*.
A mulher falou tanto absurdo pra mim no telefone que eu até tremia**. Por cinco segundos eu congelei, de tão estupefata. Como se eu não conseguisse representar o que tava acontecendo, me faltou palavras pra interpretar tanta violência. Cinco segundos de 'about: blank' mesmo. Mas foram cinco segundos. Encarnei linda a Bette Porter e comecei a latir pra mulher. Não latir de fato, apesar de conseguir imitar meu cachorro com impressionante precisão. Desconstruí todos os argumentos dela, foi uma coisa linda de se ver. A mulher só falava 'não, não é'. Eu nunca fui racional em briga, a Bette deve ter mesmo baixado em mim (não 'baixado nimim', infelizmente). E eu nunca me senti tão bem por conseguir (relativamente, né, também sou neurótica defendida, histérica de conversão sem olfato) bancar quem eu sou. Com as coisas boas e as cagadas. Minha roupa suja tá aí pra todo mundo ver, com marca de ketchup, cheiro de cigarro. Mas minha roupa suja. Do mesmo jeito que meu varal de roupas branquinhas lavadas com Fofo azul e Omo. Aliás, talvez seja até um defeito meu, me responsabilizar demais pelo que faço. Isso me deixa às vezes masoquista ao extremo, às vezes incrivelmente orgulhosa e convencida.
...
O melhor foi que eu tava falando tudo isso pra uma mãe e não era a minha. Nada se compara ao fato de que minha tratou a minha então namorada, no almoço de Páscoa em família, do mesmo jeito que ela tratava a então namorada do meu irmão. Nada pra mim é mais importante que isso. Na maior parte do tempo, as portas da minha casa tavam bem abertas mesmo*.
Ironicamente eu não saí do armário por opção, mesmo porque eu não sabia o que tava acontecendo. Mas foi a melhor coisa que já fizeram por mim.
...
Já que o tema é gayzice, rainbowarriors pras massas:



in these times of evil spirits
of material thugs and mischief
fear Saint Noni’s wisdom
and his love for rainbow spirits
jealous of their faithful heart-bond
and their dancing and their laughing
made at last a league against them
to molest them and destroy them
saint Noni wise and heart-strong
often said to Rainbowarrior
“oh my brother do not leave me!
lest the evilspirits harm you!”
rainbowarriors of two spirits
gentle hand and lion-hearted
he laughed and then he answered
like a child he softly whispered
we are rainbowarriors
evil come not near
rainbow love awaits us
with hearts of love and tears



* você pode dizer 'ah, mas sua mãe aceita, blablabla'. não foi sempre assim, meus finados copos e pratos sabem bem do que eu tô falando.
** acordei hoje toda dolorida, parecia que tinha tomado uma surra de taco de baseball.

4 comentários:

rodrigo lc disse...

desconstruiu os argumentos da véia? arrasou, vc É a juliet!
tá, eu tô obcecado, eu vou parar.

Anônimo disse...

cara. que bom. nao é sempre q a gente consegue dar uma militadinha. e fazer o embate bemXmal contra a homofobia. que bom q vc conseguiu. nao chorou nem saiu correndo. lov'you.

Anônimo disse...

Que post bacana... me deu a maior vontade de te perguntar altas coisas sobre você que eu certamente não sei. Acho que você minimiza (quer dizer, minimizou nesse post) um pouco o impacto do preconceito, porque ele existe e afeta sim a vida prática de algumas pessoas (de uma maneira mais velada, por baixo dos panos, geralmente... não nesse formato de barraco e gritaria). Além dessa coisa de se assumir, que acho que depende muito do contexto em que você foi criado... você sabe, que as pessoas são loucas e não conseguem reconhecer os próprios impulsos. Do tipo que o cérebro é a máquina mais incrível já criada e, ainda assim, ela ta cheia de defeito. Mas enfim: achei tão legal essa sua convicção com você mesma, uma coisa que a gente precisa admirar mesmo. (Só para constar, eu tive que digitar "ughlosta" para te deixar este comentário)

Aimée disse...

eu admiro tanto pessoas que se bancam. eu admiro você.

*fazia um tempinho que não entrava aqui e, hoje, vi o novo leiaute. o meu novo ficou tão parecido! mas juro que não copiei, hein?