everything i say is a stupid lie
Eu achava que a minha temporada em hospitais tinha acalmado. Desde o começo do ano, eu devo ter ido umas 8 ou 9 vezes. Esse não vai ser um post reclamação, porque como eu já disse, a doente não sou eu então suck it up. Eu queria falar mesmo de como eu sou fraca pra essas coisas. Tudo começou no carnaval, que eu não contei aqui mas rendeu duas idas a hospitais (e uma à delegacia, mas shiu, minha mãe tá lendo. Mãe, é mentira, tá?). Numa das idas, fiquei 3 horas sentada numa cadeira fria esperando uma amiga desembebedar, só porque eu fui a boa alma a ajudar a carregar e etc. Me caguei pouco porque tava com muito sono. Depois teve isso da minha avó, apelidada carinhosamente de vóverine, agora que tem seus 4 pinos no ombro. Hospital público uma vez a cada quinze dias, às 7 horas da manhã. A visão do inferno, de fato. Porque não é qualquer hospital. É hospital especializado em ortopedia. Ou seja. Um bando de velhinhos quebrados em macas, moças cegas acompanhadas de policiais, mulheres histéricas em cadeiras de rodas gritando de dor. E tudo tão apertado. As macas com os velhinhos voavam pra lá e pra cá, os 'enfermeiros' tãoooo delicados, jogando maca em cima de todo mundo. Pareciam jogadores de tetris bem agressivos, procurando lugar pra encaixar as macas. Sempre alguém surtava e brigava com algum funcionário, com a maior razão.
A minha primeira vez. Eu, minha vó, meu vô. Um corredor apertado. De repente sinto uma maca cutucando minha bunda. Olho pra trás. Um jovem, parecia bem. Olho pros pés dele, com alguns curativos. 'Big deal', pensei. Até que a mãe dele contou que ele caiu tipo de uma altura de seis metros. Eu já comecei a imaginar a cena do tombo, fiquei branca, tonta, com calor, falta de ar, pânico, saí meio que correndo e fui sentar. Virou meio que piada entre a gente e depois desse dia, só desci pra parte dos pacientes pra ficar pouco. A minha resistência aumentou, mas comecei a levar meu mp3 player. Sentava num canto olhando pra baixo, rezando pra não ver nenhuma merda muito grande. Nunca ouvia shoegaze, porque é pedir pra desmaiar. Muita distorção e vocal molenga, pá pum pra cair dura no chão achando que tô flutuando numa nuvem. Tinha que ser música agressiva ou extremamente triste pra me manter na realidade. Sleater-kinney funcionava muito bem, assim como algumas do Cocorosie, Tegan and Sara, Cowboy Junkies e Peaches (só ficava meio engraçado ouvir tipo Fuck the pain away nesse contexto, mas acho que era por isso que funcionava).
A vóverine foi melhorando, as consultas ficaram mais espaçadas. Achei que ia demorar pra voltar num hospital. Mas aí, né. Meu vô tava meio que na fila pra operar o coração. Minha vó se quebrou e ele pediu mais um tempo. Deram o tempo, chegou a hora e ele decidiu fazer mesmo. Cirurgia do coração com 78 anos. Fui levá-lo hoje no hospital, vai operar amanhã. Daqui 4 horas e meia, na verdade. Minha mãe vai estar viajando à trabalho.
Eu não sei se eu acho a decisão dele extremamente suicida ou incrível. Maior medo. Comecei a mini surtar quando ele deixou as chaves de casa comigo. Só sei que ele é muito corajoso. Fez piada o dia todo. E eu sou meio mau humorada, por razões que eu já meio que expliquei. Mas hoje foi diferente, né. A gente se divertiu bastante. Mesmo assim, acho que eu tô tão traumatizada que fico achando que tudo que eu faço nunca é bom o suficiente, nem exatamente o que a outra pessoa precisa naquele momento. Que eu poderia fazer mais e melhor. Enfim, eu sou uó. Tudo isso pra dizer o que eu já sabia.
...
Eu não entendo como tem tanta espera em hospital. É o que mais cansa. Se eu tô exausta e passei a noite desconcentrada, imagina meus avós. País de merda. Vida de merda. Quero ver eu conseguir dormir.